terça-feira, 17 de julho de 2012

BOLETIM DO BC JÁ APONTA PIB ABAIXO DE 2% ESTE ANO

BOLETIM DO BC JÁ APONTA PIB ABAIXO DE 2% ESTE ANO

CRESCIMENTO ABAIXO DE 2%
Autor(es): Gabriela Valente, Flávia Barbosa
O Globo - 17/07/2012
 
Mercado revê para baixo expansão do Brasil em 2012, a 1,9%, mas FMI vê PIB a 2,5%
O pessimismo se disseminou entre analistas em relação às perspectivas de crescimento do Brasil este ano, que recuaram para menos de 2%. Segundo a pesquisa Focus, que o Banco Central (BC) faz com as principais instituições do mercado financeiro, divulgada ontem, a expectativa geral passou de 2,01% para 1,9%. Foi a décima semana seguida de redução das estimativas. Este prognóstico, que vê desemprego em alta, renda em baixa e queda do consumo, tem perspectiva de queda confirmada pelas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), embora num patamar menos dramático. Segundo o relatório "Projeções para a economia mundial" do Fundo, também anunciado ontem, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) brasileiro vai crescer 2,5% este ano, ante uma previsão anterior de 3,1%.
- Na verdade, já estamos vivendo isso tudo, porque essa previsão do mercado (Focus) para 2012 leva em conta uma aceleração no segundo semestre, ou seja, uma melhora daqui para frente - enfatizou o economista-chefe da Sulamerica Investimentos, Nilton Rosa. - O pessimismo só está sendo cristalizado nas previsões, mas já era percebido, principalmente, pelos empresários: o futuro não será tão cor de rosa.
Segundo o analista, o impacto negativo na confiança dos empresários é bem mais rápido do que no sentimento da população. Porém, por mais que o consumidor se mantenha otimista e alimente a atividade econômica, pelo menos por enquanto o endividamento das famílias impede que o consumo continue no mesmo ritmo de antes:
- O crédito significa comprometimento de renda futura e diminui o espaço para gastar.
Isso já começa a se refletir nas expectativas para o ano que vem. Nas estimativas dos especialistas colhidas para o relatório do BC, a projeção de crescimento caiu de 4,2% para 4,1% em 2013. Aqui, o relatório do FMI diverge do boletim Focus. Para o Fundo, em 2013, haverá uma recuperação da economia brasileira, e o PIB crescerá 4,6%, meio ponto percentual acima de sua projeção anterior.
A projeção do FMI para o crescimento global em 2012 foi revista de 3,6% para 3,5% e, em 2013, de 4,1% para 3,9%. O vice-presidente executivo de Tesouraria do banco WestLB, Ures Folchini, lembra que os sinais de desaceleração econômica, em diferentes partes do mundo, intensificaram-se. Na sexta-feira, a China reportou um crescimento de 7,6% da economia no segundo trimestre, o menor número desde 2009. Os EUA, que vinham criando cerca de 200 mil novos empregos por mês, no início do ano, em junho criaram apenas 80 mil. Um sinal de que a engrenagem econômica está funcionando num ritmo abaixo do esperado.
- Antes, o foco de preocupação era a crise do euro. Agora, há vários focos. Os EUA que não crescem como se espera, a China desacelerando de fato. Tudo isso, reflete no ritmo da economia brasileira, que deve crescer 2,5% contra os esperados 5% do início do ano pelo governo - avalia Folchini.
Analistas divergem sobre taxa de juros
Mesmo com uma piora no cenário para o crescimento da economia brasileira, os economistas ouvidos no Focus não alteraram a previsão para o comportamento da taxa básica de juros (Selic). Eles apostam que o Comitê de Política Monetária (Copom) cortará os juros básicos até 7,5% ao ano. Na semana passada, o colegiado cortou a taxa em 0,5 ponto percentual, para 8% ao ano. Os próximos passos na condução da política monetária devem ser indicados na ata da reunião do Copom que será publicada na quinta-feira. Economistas já trabalham com a hipótese de que o BC será mais agressivo para favorecer o crescimento. Os mais audaciosos apostam que o Copom levará a Selic a 6% ao ano até o fim de 2012.
Relatório da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), porém, indicou que a perspectiva de aceleração futura da inflação pode levar o Copom a adotar uma postura mais cautelosa em relação à Selic:
"Enquanto a piora nas estimativas sobre a atividade poderia sugerir uma extensão do ciclo de queda dos juros (em relação à precificação atual dos mercados), a rigidez das estimativas sobre a inflação pode apontar para uma estratégia mais cautelosa", avaliou a Febraban. "É por conta disso que o mais provável é que o BC siga com o seu pragmatismo atual, preservando ao máximo o seu raio de manobra."
O corte na previsão de crescimento do FMI foi um dos mais profundos entre as principais economias analisadas. A previsão para a Índia sofreu a maior revisão, de 6,8% para 6,1%. Na mesma magnitude que o Brasil, aparece o Reino Unido, cuja projeção de crescimento foi reduzida de 0,8% para 0,2%. Segundo a equipe do economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, após um primeiro trimestre de expectativas animadores, a economia global voltou a apresentar sinais de fraqueza entre abril (quando o relatório anterior fora divulgado) e junho. Ele acrescentou que os riscos "permanecem muito elevados". As principais causas foram a nova onda de tensão financeira na zona do euro e sua periferia e a desaceleração das economias emergentes.
Principal economia emergente, a China teve sua expansão revisada para baixo tanto em 2012 - de 8,2% para 8% - como em 2013 - 8,8% para 8,5%. Entre os parceiros no chamado Bric (grupo das quatro grandes nações emergentes), a Índia viu subir a projeção para o seu PIB no ano que vem - de 7,2% para 7,5%. As projeções para a Rússia ficaram inalteradas este ano - expansão de 4% - e caíram ligeiramente, de 4% para 3,9%, em 2013.
Entre os países ricos, o FMI manteve inalterada a previsão de contração de 0,3% na economia da zona do euro e reduziu de 0,9% para 0,7% a expansão do próximo ano. Além do Reino Unido, sofreu forte revisão nos números a Espanha, que, em vez de um ano, terá dois de recessão. Os EUA tiveram a previsão de PIB diminuída de 2,1% para 2% em 2012 e de 2,4% para 2,1% em 2013. O Japão foi a surpresa positiva entre as economias avançadas, com expansão estimada em 2,4% este ano, alta de 0,4 ponto percentual sobre a marca do relatório anterior.
A revisão das projeções do FMI não surpreendeu o professor Luiz Carlos Prado, da UFRJ. Para ele, o país não tem como dar um novo salto de crescimento se não houver investimento público. Apenas o consumo não tem como segurar uma forte expansão no PIB:
- Além disso, a crise encontrou um país que vem postergando decisões importantes, como reformas estruturais e investimento em educação - afirmou.
COLABORARAM: Aguinaldo Novo e Fabiana Ribeiro

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